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Iwaki em Fukushima, quase 3 anos depois

"We will stand strong again"

"Nós vamos ficar fortes novamente" foi a primeira frase marcante que li neste ano, exatamente no dia primeiro de janeiro, quando estive em Iwaki, Fukushima.
Aproveitando o feriadão de janeiro, quando estivemos em Tochigi, próximo a Tohoku, região nordeste do Japão, sempre que seguíamos para algum lugar, as placas nos convidavam a passar por alguma cidade da área afetada. Ir para uma cidade das áreas afetadas sempre foi um desejo meu.
Dentre as várias placas que mostravam o destinos, havia sempre a que indicava para Sendai, na província de Miyagi, cujo nome ficou gravado em todo o mundo, onde ocorreu o tsunami e por ter sido uma das mais devastadas.
Sempre quis levar solidariedade para aquele povo, mas não tive oportunidade.
Um amigo, que foi pra lá algumas vezes, disse que eles não necessitam nada material como no início quando muitas coisas faltavam. O que eles precisavam era de g-e-n-t-e, ou seja, apoio.
Estando perto, pensei que fosse a oportunidade, embora não pudesse ir tão longe.
Fomos então para Iwaki, em Fukushima, a 50 km da usina nuclear.
Iwaki  fica ao sul da região nordeste e foi também fortemente afetada.
No caminho seguindo para Iwaki, placas alertavam possibilidade de encontrar ursos e guaxinim na estrada
Enfim, quando chegamos a Iwaki, tudo parecia normal.


O vídeo mostra fendas abertas em Iwaki:


A princípio, não vimos sinais da passagem do tsunami.
As barreiras de construção indicavam nítidos sinais de reconstrução.
Muita coisa ali estava sendo reconstruída, dando sensação de normalidade.

Quando avistamos este túnel com forte barreira de contenção e as casas no alto, imaginamos que poderíamos avistar algo.
Resolvemos seguir para o alto desta barreira, em busca de algo que pudéssemos ter noção do que havia acontecido.
Subimos, as ruas eram íngremes, estreitíssimas, de difícil manobra.
Avistamos uma espécie de farol bem adiante e seguimos na direção.

No caminho, a impressão de que havia muitos parques. Era o Parque Misaki, localizado em um espaço gigantesco. Praticamente um complexo, com diversas instalações, cada uma em um espaço enorme como da foto acima, interligadas pelas avenidas de acesso e muitos estacionamentos.
A vista dava para o mar e o Porto de Onahama, onde as indústrias funcionavam a todo vapor, literalmente. 
No Parque Misaki fica o Iwaki Marine Tower, que tinha visto anteriormente, pensando ser um farol.
No dia primeiro, Ano Novo, estava fechado.
Abaixo, o mirante Shiomidai, dentro do Parque Misaki.
A plataforma de observação Shiomidai é um local do parque onde se tem as belas vista do mar. O mirante se projeta para o mar.


Existem espaços para piqueniques e churrasco. Crianças brincavam no parque, mostrando que a vida seguia normal.
E as lindas camélias com suas folhas brilhantes demonstravam que nada as afetaram.
Continuamos então, nosso curso pela orla. Os sinais estavam lá. 
As casas à beira-mar, nesta região, foram as destruídas. 
Algumas casas novas, reconstruídas.
O contraste: um barracão em ruínas e uma casa nova, recém construída.
Casas novas, bonitas, reconstruídas.
Algumas dividiam espaço com a lembrança. Porém, a vida continua. 
Um barco flutuava no mar.
Um pouco mais adiante, na foto abaixo, as casas do outro lado da rua tinham sofrido poucos danos.
Nesta região, um pouco mais afastado do mar, mais casas novas, reconstruídas.
O container e outros sinais de construção. Em breve, mais uma casa reconstruída.
As flores, nas fotos abaixo, davam uma triste resposta.
Flores em homenagem às pessoas que ali moravam, onde só restavam fundações.
Não preciso dizer dos sentimentos que tomaram conta, diante dessas imagens.
Lembranças vinham, como no dia em que tudo aconteceu.
Um longo trecho de casas destruídas. Eram muitas, muitas casas, quilômetros de ruínas.
Daqui se avistava perfeitamente o morro e o mar, tão grande era o vazio.
No longo trecho, somente fundações das casas.
Via essas imagens somente pela TV e só assim, de perto, pra sentir verdadeiramente a imensidão da tragédia. Aquele enorme espaço vazio era apenas uma pequena parte.
Impossível não se emocionar diante daquele vazio, outrora tão habitado. O silêncio do lugar, aquele vazio infinito, o frio, tudo contribuía para um sentimento além da tristeza, que não sei descrever.
Em alguns lugares, apenas o mato sobrevivia.
Mesmo sem casas ou poucos moradores, os ônibus não deixaram de circular, continuaram a fazer a linha normalmente. Os pontos foram preservados e os ônibus faziam a sua parte, circulavam vazios naquele e, acredito, todos os dias. 
Era uma sensação de vazio e sem esperanças; muitos dos que ali moravam já não existiam mais ou, talvez, já não quisessem mais voltar.

De um lado, ruínas. Do outro, o mar. Para o surfista, a vida segue normal
E em meio ao vazio, uma frase bastante animadora deixada pelas pessoas solidárias aos sobreviventes e aos parentes das vítimas.

Percebemos que essas pinturas não eram antigas. E lembramos, então, que em meio a tantos gestos de solidariedade, existia um projeto que buscava amenizar o sofrimento das pessoas que perderam seus entes queridos e suas casas.

Tratava-se do projeto: "Gareki ni hana o sakasemashou" que, em tradução livre quer dizer "Vamos florir as ruínas", um trabalho feito por voluntários locais e estudantes universitários, cuja atividade foi mais conhecida como "Vamos iluminar a cidade para a reconstrução". Esses voluntários fizeram desenhos e pinturas de flores nas ruínas.
No quebra-mar as pinturas eram bem mais recentes.


A escada e o corrimão ainda apresentavam os sinais do desastre.

Mas nada que impedisse de levar orações e oferendas de forma tradicional, singela.
Do vazio, ficou a triste impressão de que a maioria não quer mais voltar, seja pela lembrança ou pelo trauma.
Só o tempo - neste caso sabemos que será muito tempo - para cicatrizar as dores.  
Eu não havia entendido muito bem o que estava escrito na porta. A princípio seria Gambare, e no lado direito da porta "Nippon", além de outras palavras, porém em hiragana - uma das escritas japonesas: "Ganbappe Nippon".
Existia uma campanha denominada " がんばっぺいわき "ou seja "Ganbappe, Iwaki". promovida pela Prefeitura de Iwaki para incentivar a reconstrução. A palavra "Ganbappe" é um antigo dialeto regional de Tohoku, região nordeste do Japão, para "Gambare".
Gambare ou Gambappe Nippon quer dizer: Dê o seu melhor, Japão!
Por tudo que ali vi, por tudo que ali senti, desejo veementemente pelo seu melhor, com muita força, Tohoku.

A cidade de Iwaki, por não ter sido tão violentamente afetada como as demais e com muitas áreas reconstruídas rapidamente, tem sido a sede de muitos eventos dos ex-moradores da zona de exclusão da província de Fukushima.

Come back stronger again!
Gambarou, Tohoku!

Comentários

Celina Dutra disse…
"Impossível não se emocionar!" Era um girassol por ali? Beijo.

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