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A volta por cima

Tudo mentira!!!

... assim referiu RDH, 41 anos, que aqui vou chamá-la de Ro, às associações e NPO de apoio aos brasileiros em dificuldades no Japão.


Passando fome, revoltada com todos e a tudo, perante a situação em que se encontrava.

Sofrendo violência doméstica psicológica, desempregada e com um filho de 11 anos, procurou apoio em vários lugares, mas não obteve rapidamente.

O filho de Ro fala japonês fluente e foi educado à maneira japonesa, já Ro conhece muito pouco o idioma, embora esteja há quase 10 anos no Japão. Por isso, seu filho sempre esteve junto em todos os lugares servindo de intérprete.

Ro estava casada com um peruano que estava em situação ilegal no país. Tudo ia bem, seu filho até o chamava de pai. Mas bastou ficar desempregada e seu relacionamento passou a tomar outro rumo. Foram alguns meses de violência psicológica, pois seu companheiro além de não manter a família, negava os itens básicos de alimentação, higiene e também para a educação de seu filho, que ele havia incluído como dependente, e ainda os maltratava verbalmente todos os dias.

Tentou buscar ajuda de uma cesta básica em uma NPO, na certeza de que a ajuda seria naquela hora, mas era apenas um cadastramento.

Encontrei-a revoltada e já num processo de agressão a todos que dispunham a ajudá-la.

Naquele momento, vários problemas precisariam de soluções rápidas. Onde começar? Emprego talvez, pensei, para que ela pudesse obter independência financeira e assim buscar uma moradia para que pudesse ter uma vida em paz com seu filho. Mas estávamos num período de crise, demissões e falta de empregos...

Tinha que ajudá-la... arregacei as mangas e fui tentar ajudar.

Nunca havia tomado um trem sozinha e muito menos para um lugar mais distante, mas armei-me de coragem e fui até a sua casa em Gifu. Contatei com o Carlos Zaha, pois sou voluntária da Brasil Fureai e ele me deu total apoio. Zaha contatou com o Roberto Martins, da Bell Mart, a quem sou muito grata, que me apoiou durante toda a estada em Gifu e mais, doou um bônus semanal, muito mais do que uma cesta básica, pois ela escolheria o que precisasse e quisesse, inclusive o que naquele momento seria supérfluo.

Roberto já a conhecia e levou-me até o apartamento de Ro, mas ela não estava. Fomos à Hello Work, Prefeitura, locais possíveis de encontrá-la, mas foi em vão.

Plantei-me na porta do apartamento dela, que por sorte, ficava ao lado de uma escadaria sem uso, e ali fiquei sentada durante horas. Só por volta das 7 da noite ela chegou. Conversamos muito e vi com meus próprios olhos a sua situação.

Imediatamente providenciei que ela fosse até a Associação Brasil Fureai, onde ela própria pode ver a real situação dos brasileiros nesta terra. Um possível emprego e uma moradia estava a caminho, mas isto também não pode ser realizado.

E a cada dia, Ro se desesperava. Ela também precisava tomar iniciativas.

Decidida, buscou informações para a separação e conversou com seu companheiro que aceitou. A separação foi rápida e até muito fácil. A lei japonesa concede separação rápida nos casos de casamento de estrangeiros de nacionalidades diferentes.

Após a separação, nem é preciso dizer da cobrança do então ex-companheiro para sair do apartamento.

Mais uma vez, Foram Ro e seu filho à Prefeitura, desta vez para buscar moradia e ajuda financeira. Excepcionalmente, Ro conseguiu um abrigo destinado às mulheres vítimas de violência doméstica e, ao mesmo tempo, deu entrada no pedido de Auxílio-Sobrevivência, aqui chamado de Seikatsu Hogo. Novamente, teve o apoio de Roberto Martins, que fez a mudança para o abrigo e ainda comprou itens de materiais exigidos pelo abrigo.

Sua luta continuou, desta vez, em busca de emprego. Várias idas e vindas ao Hello Work sem êxito, mesmo tendo apoio de uma amiga de funcionária do abrigo onde estava morando, que enviava as vagas por fax.

Neste período, a Prefeitura aprovou a concessão do Seikatsu Hogo e auxílio à mãe solteira.

As coisas começaram a ser encaminhadas: Ro estava em um abrigo, receberia os auxílios financeiros, cesta básica semanal, mas ainda faltava o emprego.

Apesar de tudo, sua auto-estima estava num nível melhor, mas ela ainda queria sua independência habitacional. Inscreveu-se nos apartamentos públicos da Prefeitura e, com a graça de Deus, foi contemplada.

Ro ganhou todos os móveis e utensílios de que uma casa precisa.

Também conseguiu um serviço temporário (baito). Ro ainda sabe fazer artesanato e está recebendo muitas encomendas.

Essa é a história de Ro. Ela não passa mais fome, vive feliz em um apartamento com seu filho, recebe ajuda financeira do governo, trabalha apenas alguns dias por mês, mas tem uma renda própria (este valor é descontado do Seikatsu Hogo) e hoje sua história pode ser contada como mais um caso de uma pessoa que deu a volta por cima na crise.


Um especial agradecimento a Roberto Martins, da Bell Mart, a quem desejo que Deus o abençoe sempre. Só Deus poderá premiar pelo grandioso ato de solidariedade. Muito Obrigada, Roberto!

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